Os municípios do Jaboatão dos Guararapes e do Moreno já possuíram, cada um, mais de 40 engenhos de cana-de-açúcar, cada um com sua fábrica e produção própria. Porém, no final do século XIX, iniciou-se um processo de modernização da produção açucareira, através da criação das usinas e dos engenhos centrais. A usina consistia num processo de produção mais moderno, em escala industrial, que demandava uma quantidade de matéria-prima muito maior que o simples engenho. Assim, os engenhos que não se transformaram em usina, acabaram virando apenas fornecedores de cana, ficando de "fogo morto". Este processo de transformação da produção açucareira não foi uniforme em todas as regiões, mas até a metade do século XX, todos os engenhos do Vale do Jaboatão já estavam na dependência direta ou indireta de alguma usina.
Para atender a demanda por mais matéria-prima, ou seja, por mais cana-de-açúcar, a usinas adotaram, inicialmente, o transporte ferroviário como alternativa mais viável e econômica. Assim, ainda no final do século XIX, iniciou-se a construção de ferrovias ligando as usinas aos vários engenhos que forneciam cana. As três usinas que se instalaram em Jaboatão tinham seus ramais ferroviários que as ligavam aos engenhos de sua área de influência, e que também se comunicavam com as ferrovias públicas estatais. Vejamos cada uma delas.
A Usina Muribeca foi uma das primeiras usinas a ser criada no Estado de Pernambuco. Situada em terras do Engenho Recreio, funcionou até 1965, quando abriu falência. Suas terras foram loteadas e hoje formam diversos bairros da área de Muribeca. Pertenciam a esta usina os engenhos Guararapes, Recreio, Conceição e São Severino, além de arrendar safras de vários outros engenhos vizinhos. Possuía dois ramais ferroviários. O primeiro partia da Usina e seguia por 4 quilômetros em direção leste até o Engenho Guararapes, enquanto o segundo seguia em direção contrária, no rumo oeste, partindo da mesma usina e atravessando os engenhos Recreio, Conceição e São Severino, para depois se unir à ferrovia da Usina Jaboatão. Parece ter existido também, além destes, dois outros ramais ferroviários dos quais um seguia em direção sul, atravessando o Rio Jaboatão e passando pelo Engenho São Bartolomeu, seguindo até as pedreiras de Comportas. O outro seguia em direção oeste, pelo vale do Rio Muribeca, unindo os engenhos Muribequinha, Capelinha, Salgadinho e Camarço.
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Município do Moreno - Enciclopédia dos Municípios/IBGE |
A ferrovia da Usina Jaboatão era ligada com a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, no ponto conhecido como "Estrela", em Jaboatão Centro, na antiga Praça dos Caçadores. Seguia daí pela rua Câmara Lima (Beco da Colônia) até a sede da Usina Jaboatão, onde se bifurcava em dois ramais. O primeiro descia pelo Riacho Suassuna até se encontrar com a ferrovia vinda da Usina Jaboatão. O segundo subia o mesmo riacho em direção aos Engenhos Palmeiras e Macujé. Antes, porém, formava um novo ramal, na altura da Colônia Salesiana, que seguia em direção ao sul e que veio a ser o principal tronco ferroviário da Usina Jaboatão. Este ramal ferroviário seguia até o Engenho Penanduba, onde tomava o rumo oeste, atravessando os engenhos Camarço e Secupema. Penetrava no município do Moreno em terras do Engenho Canzanza, seguindo daí em diante pelos engenhos Caraúna e Gameleira até chegar no Engenho Javunda, num percurso com mais de 16 quilômetros! Do Engenho Javunda saía ainda um pequeno ramal ao norte, até a metade do caminho para o Engenho Pereiras, e outro ao sul, que se comunicava com a ferrovia vinda da Usina Bom Jesus, no Engenho Cumarú.
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Município de São Lourenço da Mata - Enciclopédia dos Municípios/IBGE |
Já o domínio canavieiro da Usina Bulhões eram mais para o norte, penetrando no território de São Lourenço da Mata e chegando até o Povoado de Matriz da Luz. Seu início era na Estrada de Ferro Central, diante da Usina, em Jaboatão Centro, seguindo em direção norte pelo vale do Rio Duas Unas até a sede do Engenho Camassary, onde tomava o rumo oeste pelo vale do mesmo rio. No encontro dos rios Duas Unas e Pixaó, a ferrovia da usina Bulhões se bifurcava. O primeiro ramal continuava pelo Vale do Rio Duas Unas passando pelos engenhos Pocinho e Una, onde aparentemente terminava neste último (talvez prosseguisse até o Engenho Pacoval). O segundo ramal seguia pelo Vale do Rio Pixaó, em direção noroeste, até o Engenho do Mato, onde novamente se bifurcava em dois sub-ramais. O primeiro seguia ao norte pelo Engenho Curupaity e terminava no Povoado de Matriz da Luz. Já o segundo, prosseguia pelo Vale do Rio Pixaó até o engenho homônimo, onde tomava o rumo oeste, seguindo até a nascente do rio. Atravessava o divisor de águas entre o Pixaó e o Várzea do Una, e seguia por mais sete quilômetros atravessando os engenhos Covas, Araújo, Poço Dantas e Várzea do Una, onde terminava. Em sua maior extensão, a ferrovia da Usina Bulhões alcançava até cerca de 20 km.
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Usina Bulhões - Hoje Falida |
Penetrava ainda no município do Moreno a ferrovia vinda da Usina Bom Jesus, sediada no município do Cabo. Subindo o Vale do Rio Gurjaú, atravessava os engenhos São Braz, Monte, Jacobina e Coimbras, sempre na margem do Rio Gurjaú que pertence ao município do Cabo, para daí ir aos Engenhos Gurjaú de Baixo e de Cima, já em território morenense. Neste último engenho, a ferrovia se bifurcava, indo um ramal para o Engenho Cumarú, onde se encontrava com o ramal vindo da Usina Jaboatão. O outro ramal seguia em direção ao Engenho Novo da Conceição, vindo a terminar em Cajabussu. No Engenho Novo saía ainda um pequeno ramal por um riacho, até a localidade conhecida como "Os quadros".
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Vista aérea da Usina Jaboatão |
Como é possível perceber, estas ferrovias ligavam quase todos os engenhos e era possível percorrer grandes distâncias de um município a outro. Facilitava não só o transporte da cana, mas também dos moradores dos engenhos que se beneficiavam das ferrovias para ir ao trabalho e para a cidade. Muitos utilizavam "trollers" para se locomover, o que às vezes causavam acidentes. Todo o vale dos rios Duas Unas, Gurjaú e Muribeca estavam conectados e podía-se ir de Muribeca a Matriz da Luz sem grande problemas. Hoje, porém, nenhuma dessas linhas mais existem e os trilhos foram todos arrancados e/ou roubados. É possível encontrar, às vezes, um ou outro trecho e alguns trilhos constituem colunas de algumas casas de moradores e há ainda uma pequena locomotiva parada na Usina Bulhões. Mas o que levou ao desaparecimento dessas ferroviais?
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Ruínas da Usina Muribeca |
O mesmo processo que se verificou com as ferrovias públicas parece ter ocorrido com as ferrovias privadas das usinas: o favorecimento do transporte rodoviário em detrimento do ferroviário, a partir das décadas de 60 e 70. Algumas ferrovias foram destruídas logo após o fechamento da usina, como foi o caso da Usina Muribeca, mas nos demais casos, mesmo com o prosseguimento das atividades, os trilhos foram arrancados em meados da década de 80, simplesmente porque os caminhões passaram a ser preferência para o transporte da cana. Com isso, o que seria no futuro uma grande oportunidade de transporte alternativo de passageiros simplesmente desapareceu!
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Locomotiva na Usina Bulhões |
FIZ ALGUMAS TRILHAS ANOS ATRÁS PROCURANDO VESTÍGIOS DOS TRAJETOS DESTES MINI TRENS,E ACHEI VALAS,E MUITOS VESTÍGIOS DE QUE UM DIA PASSOU TREM ALI.
ResponderExcluirDE MARCÃO EM VILA RICA-JABOATÃO
marcos.barboza@hotmailo.com