Por James Davidson
A partir de sua nascente, no
município de Vitória de Santo Antão, o Rio Jaboatão adentra no município do
Moreno em terras do Engenho Jussara, após percorrer alguns engenhos do
município de Vitória. Tem início aí um longo percurso de cerca de 17 quilômetros
em que o Rio Jaboatão atravessa o município do Moreno de oeste a leste,
passando pelas sedes dos engenhos Jussara, Jaboatãozinho, Pintos, Pereiras e
Morenos, adentrando em seguida na cidade. O rio deixa o município do Moreno em
terras do Engenho Bom Dia, seguindo, daí em diante, em território do vizinho
município de Jaboatão dos Guararapes.
No Engenho Jussara, forma o Rio
Jaboatão várias corredeiras que são aproveitadas pela Compesa como pontos de
captação de água para o Distrito de Bonança e para Cidade de Deus. Ali, ainda
se conserva a Mata do Engenho Jussara, um dos últimos remanescentes de Mata
Atlântica às margens do Rio Jaboatão.
No passado, a água do Rio Jaboatão
era utilizada pelos engenhos na produção do açúcar. A força motriz do rio movia
as moendas dos vários engenhos à sua margem, através de Rodas D'águas. Um
dessas últimas rodas d'águas existentes até alguns anos atrás era a do Engenho
Jaboatãozinho, que se localizava às margens do Rio. Porém, e infelizmente, foi
levada por moradores para um ferro-velho em Bonança e destruída. Resta agora,
em toda a bacia do Jaboatão, somente a roda d'água do Engenho Seva, situada às
margens do Riacho Laranjeiras, um de seus afluentes. É um dos últimos
testemunhos dos tempos faustos do açúcar no município.
De Jaboatãozinho, o Rio Jaboatão
segue para o Antigo Engenho Pintos. Ali, a construção da Barragem no vizinho
Engenho Pereiras fez com que a localidade ficasse abandonada. A perspectiva de
inundação pelo lago da represa fez com que o Estado indenizasse os moradores,
deixando o lugar um deserto. Destaque para o antigo Casarão do Engenho Pintos,
um verdadeiro exemplar da arquitetura do açúcar, que será inundado. Assim, mais
um local histórico para a memória do município ficará esquecido e submerso!
Mais adiante, o Rio Jaboatão
atravessa as terras dos Engenhos Pereiras e Morenos, penetrando em seguida na
Cidade, pelo Banho do Salu. Até então, o Rio vinha sofrendo apenas com algumas
agressões oriundas da agricultura, como o uso de agrotóxicos e a destruição de
sua Mata Ciliar. Porém, na Cidade, outros impactos começam a comprometer a água
do Rio Jaboatão. Na comunidade da Galinha D'água, por exemplo, um esgoto a céu
aberto deságua sem tratamento no Rio.
No Centro da Cidade do Moreno, uma
pequena represa no trecho conhecido como "Tomada" marca o cenário do
rio. Ali, a água do rio era utilizada para os serviços da Fábrica do Société
Cotonnière. Atualmente, se encontra contaminada e tomada pelo lixo. Fica
difícil imaginar que décadas atrás esse trecho era utilizado para o banho pelos
moradores, principalmente na parte conhecida como "Poço da Nega".
Mais adiante, rio abaixo, podemos
encontrar os mesmos problemas de esgoto e de lixo sendo despejados no rio. No
bairro de N.S. de Fátima, podemos ver crianças tomando banho no rio, enquanto
porcos descasam ao lado. Na ocasião, flagramos um comerciante local despejando
resíduos de uma loja de aves no Rio Jaboatão. Também registramos crianças
pescando no rio. Após o bairro de N.S. da Conceição, o Jaboatão segue para o
Engenho Bom Dia, deixando o município do Moreno e seguindo por Jaboatão dos
Guararapes.
Quais as consequências do tratamento
que é dado pela cidade e seus moradores ao rio? Doenças, riscos á saúde e
enchentes são os principais. Na grande cheia de 2005, por exemplo, o Rio
Jaboatão transbordou invadindo as casas e destruindo as invasões em suas
margens. A população carente, como sempre, é a que mais sofre!
E qual seria a solução para os
problemas enfrentados pelo Rio Jaboatão na Cidade do Moreno? O que é preciso
fazer para mudar o estado do rio? Que atitudes são necessárias para tornar o
Rio Jaboatão em um rio limpo e saudável novamente? Essas perguntas somente
serão respondidas se houver, antes de tudo, um redirecionamento na forma de
tratamento que é dado ao rio pela Cidade. E para isso, além da realização de
obras de saneamento básico, como a criação de uma rede de coleta de esgoto que
atenda a toda a cidade e a criação de uma coleta seletiva e eficiente de lixo,
é preciso que a população participe ativamente na recuperação do rio, não como
mera expectadora, mas como membro participante e atuante dessa mudança. E isso
só será possível com uma forte mediação do poder público em todas as esferas de
governo, no sentido de não somente realizar obras de intervenção necessárias para
recuperação do Rio Jaboatão, mas também inserindo a população no processo
através da Educação Ambiental. É somente por meio da Educação Ambiental que
poderá haver uma mudança de pensamento e de ações, passando a relação das
pessoas com o Rio a ser harmoniosa e equilibrada. Assim, quem sabe um dia a
Cidade do Moreno voltará a conhecer um Rio Jaboatão limpo e despoluído!