terça-feira, 6 de setembro de 2022

História do Engenho Carnijó

 Por James Davidson


O Engenho Carnijó, localizado em Moreno, foi um dos seis engenhos pioneiros no território que dariam origem ao município do Moreno. As terras do Vale do Jaboatão começaram a ser divididas e distribuídas em sesmarias, a partir da década de 1560, logo após a guerra de expulsão dos indígenas Caetés (1560-1565). No final do século XVI, a zona central da "Ribeira do Jaboatão" já estava seguramente colonizada com vários engenhos safrejando, sendo o Engenho Carnijó um deles.


A sesmaria do Engenho Carnijó, assim como as demais sesmarias da região, possuía originalmente uma légua em quadra. Estava limitada ao norte pela sesmaria do Engenho Catende, ao sul com a sesmaria do Engenho Gurjaú, a leste com a sesmaria de Gaspar Alves Pugas (Bulhões e Palmeiras) e só oeste com terras devolutas. Não se conhece o texto original da carta de doação, mas o Engenho já estava fundado e levantado em 1593, quando pertencia a Pero Cardigo.




Era Pero Cardigo natural da Vila do Saboal, distrito do Guarda, em Portugal. Era filho de Fernão Garcia e Felipa Cardigo, tendo nascido provavelmente em 1534. Era conhecido como "O Velho", sendo casado com Isabel Mendes, segundo a documentação da Visita do Santo Ofício em Pernambuco em 1593. Possuía também um engenho na Várzea e a "Fazenda de Carnijó" em Jaboatão.




Durante o período da ocupação holandesa em Pernambuco (1630-1654) o Engenho Carnijó ficou abandonado, seus proprietários fugiram para a Bahia com receio dos holandeses. A partir daí surge um imenso vazio a respeito da localidade nas fontes históricas. Somente no século XVIII a propriedade reaparece sob a posse de Manuel Carneiro Leão.



Manuel Carneiro Leão era natural de Carvalhosa, em Paço dos Ferreiras, Distrito do Porto, em Portugal. Nascido em cerca de 1685, veio para o Brasil, onde adquire o Engenho Carnijó, que estava abandonado desde a invasão holandesa. Foi proprietário também do Engenho Contra-açude, situado na mesma região. A família Carneiro Leão, uma das mais tradicionais de Pernambuco e do Brasil, descende em grande parte desse patriarca, que era casado com Dona Rosa Maria de Barros, integrante da família Barros Barreto, outra família importante da Capitania de Pernambuco.



Em 1749, Manuel Carneiro Leão desmembrou parte da sesmaria de Carnijó, separando uma parte para seu filho. Surge assim o Engenho Nossa Senhora do Carmo, mais conhecido como Macujé, pertencente agora ao capitão Ignácio de Barros, filho varão de Manuel Carneiro Leão. Posteriormente, em 1770, após o falecimento de Manuel Carneiro Leão, seu filho capitão Ignácio de Barros desmembra novamente a propriedade, dando origem ao Engenho Jardim. As três propriedades - Carnijó, Macujé e Jardim - seguiriam até o século XIX sob a posse dos Barreto de Barros, herdeiros de Manuel Carneiro Leão e sua mulher.



No início do século XIX, o Engenho Carnijó estava sob a posse dos herdeiros de Ignácio de Barros. No ano de 1857, segundo levantamento da época, o Engenho Carnijó moía à água, possuindo um total 61 escravos, tendo produzido naquele ano 240 cargas de aguardente, 5.280 canadas e 1.155 pães de açúcar. No ano de 1859 são registrados como proprietários Dona Ana Maria Francisca de Paula Cavalcanti Barreto e seus filhos Francisco do Rêgo Barros Barreto e Ignácio de Barros Barreto. Em 1870 havia sido herdado por esse último, que aparece no Almanaque de Pernambuco daquele ano como o único proprietário de Carnijó.

Falecido Ignácio de Barros Barreto, seus herdeiros vendem o Engenho Carnijó ao Barão de Morenos, Antônio de Sousa Leão. A escritura de compra e venda foi lavrada no Cartório de Jaboatão em 6 de outubro de 1880, no valor total de 35 contos de réis. Passava assim o Engenho Carnijó a integrar o vasto Patrimônio do Barão de Morenos que já então incluía outros 7 engenhos: Morenos, Catende, Xixaim, Viagens, Bom Dia, Pitimbú e Brejo.

Com o falecimento do Barão de Morenos, no ano de 1882, é realizada a partilha de seus bens entre seus filhos e herdeiros. O Engenho Carnijó coube de herança à sua filha, Rita de Sousa Leão, casada com o Dr. Alfredo Martins. O Engenho Banguê funcionou até o ano de 1950, quando foi desativado. A propriedade foi herdada e dividida pelos herdeiros da família. Roberto de Souza Leão, bisneto do Barão, construiu na fazenda Santa Beatriz a nova casa-grande do engenho, na década de 1980. A anterior, em estilo eclético, datada do início do século XX, ainda permanece na outra parte do engenho, também pertencente aos demais herdeiros da família. O Engenho Carnijó ainda conserva sua antiga Roda D'água, umas das últimas da região, sobrevivente derradeiro dos antigos engenhos banguês movidos a água, nos tempos que o açúcar era a principal riqueza do Vale do Jaboatão. 

 

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